DO TEATRO
A localização precisa é a seguinte: Latitude 23º35’26,1’’Sul e Longitude 48º02’56.0’’Oeste. Foi, por volta de mil oitocentos e sessenta e seis que o Major João Monteiro, com a ajuda de muitos e do Mestre Florêncio, iniciou a construção do Teatro São João, no Largo do Rosário, da cidade de Lage Seca em tupi-guarani, na Província de Piratininga.
Sua inauguração constitui-se num acontecimento de marcar época para aquela vila efervescente, cujo talento se voltava tanto para o cultivo da terra e quanto para as artes. A mocidade brilhante e talentosa da cidade participou, com o Largo do Rosário todo enfeitado de flores em arcos de bambus, com bandeirolas balançantes. Um pequeno guri caracterizado como São Joãozinho teve a importante tarefa da colocação da última telha na cumieira desse prédio, encerrando assim as obras do primeiro teatro itapetiningano, telha esta de cor azul era a única destoante das demais. O povo explodiu em alegria e rojões, que na época eram permitidos, pipocaram o céu daquela gente simples. Mestre Florêncio, que também fez um prédio no mesmo Largo, o qual serviu de Igreja do Rosário dos Homens Pretos, artista na execução de grandes obras de taipa de pilão, também era um grande músico. Com sua Banda, rompeu um dobrado cheio de trinado de requinta, entremeado de trios chorosos e sentimentais.
À noite: “OS MILAGRES DE SANTO ANTONIO” foi a peça apresentada à uma plateia distintamente trajada. Será que “eles”, os indesejáveis, já estavam lá em suas galerias subterrâneas? Acredita-se que a resposta seja afirmativa.
O fato é que, devida a distância da vila em relação à capital da Província, de onde vinham as melhores companhias teatrais, esse teatro foi ficando subutilizado e encerrou suas atividades. Por muitos anos, ficou ao abandono, talvez “eles” aproveitaram-se dessa nova situação.
DA FAMÍLIA
No primeiro quarto do século passado, um membro de uma grande família compra o Teatro e decidiu transformá-lo em um local onde os membros da família poderiam se reunir e discutir assuntos relacionados aos cuidados da mãe, uma senhora muito antiga, porém renovada, culta, exigente e acolhedora. Como toda mulher, não gostava de revelar sua idade, mas por apoiar o progresso estava sempre atualizada e acredito que viverá muito tempo. Hoje posso falar com mais segurança pois faço parte dessa família, que não para de crescer, felizmente. Esses irmãos são muito especiais, e hoje temos alguns cujos nomes são estranhos: Sekreh, Illiocihc, Oloutreb, Larama, Sotnas, Iksiwejam, Ziur, Arieiv, Oãtsirt, Setrof, Otelc, Itteripe, Ogramac e muitos outros.
Como toda família, temos nossas regras, e é muito importante que esses irmãos reúnam pelo menos uma vez por semana para manter os laços da amizade, aprender uns com os outros a melhorar a cada dia seguindo a orientação materna e sendo mais tolerantes uns com os outros. Eles também gostam de ajudar outras famílias e pessoas que não fazem parte do clã. Detestam ostentar o que fazem, embora a maioria saiba onde foi feita a beneficência.
Além disso, não fazemos nada que não seja da vontade da maioria, e a figura do irmão mais velho é como a de um condutor de um veículo onde cabe aos passageiros escolher o destino e os locais para parar, descansar ou progredir na viajem. No entanto, eles têm inimigos…….
DOS CUPINS
Do Reino Animalia, Filo Artrophoda, Classe Insecta, Ordem Blattodea (a mesma das baratas), Subordem Isoptera, e várias Famílias nos interessando a Cratomastotermitidae. Existem muitos, cerca de 2.800 espécies catalogadas pelo mundo, esses Isópteros, insetos eussociais, como as formigas, que vivem em termiteiros (em Portugal são conhecidos com térmitas) ou cupinzeiros, notórios por causar prejuízos econômicos como pragas de madeira e de outros materiais celulósicos, ou ainda como pragas agrícolas, embora apenas 10% dessas pragas possuir essas características. Em termos de biomassa e abundância, são muito significativos, pois promovem a aeração do solo, permitindo a retenção de água e o papel de super decompositores de material celulósico, auxiliando no balanço carbono-nitrogênio.
Os índios do noroeste da Amazônia adicionam os cupins à sua dieta, e estes desempenham o papel de sal, uma vez que apresentam um sabor salgado. Os nativos da etnia Desâna, coletam os cupins com folha de bananeira brava colocando-as no interior do orifício do termiteiro, como um funil, para captura-los. Muito apreciados são os cupins amarelos, comidos vivos ou assados quando saem dos buracos em dias de chuva. Os índios do Mato Grosso se alimentam de cupins de solo e das árvores, conhecendo os espécimes comestíveis pelo odor que exalam quando friccionados.
É raro termos unanimidade, mas arrisco-me a dizer que, neste caso, todos nós preferimos o jantar que o irmão Reivax sempre nos prepara ao final dos nossos encontros, a provarmos aquela iguaria dos povos originários.
NOVAMENTE DO TEATRO
Hoje sabemos que os cupins estão no prédio em que foi o Teatro São João causando alguns prejuízos à família que lá se reúne, muitos móveis, livros e até mesmo a escada, não foram perdoados por esses isópteros. Incansáveis esforços estão sendo feitos, e vários irmãos mais velhos já afirmaram que os cupins assim como os diamantes são eternos. Se assim são, vamos falar de outros…..
DE OUTROS CUPINS
Aprendemos que os cupins preferem algumas madeiras, apodrecidas ou de textura mole, enquanto as madeiras de lei ou tratadas não hospedam esse tipo de praga.
Precisamos ser fortes como a madeira de lei ou tratada para impedir que cupins morais, que também tem várias espécies, corrompam a nossa essência. Esses cupins morais como o egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a avareza, o ódio, a inveja, a maledicência, a preguiça, a difamação e a crítica infundada, estão para a nossa alma como os cupins do nosso prédio, dos quais é preciso redobrar os cuidados para que eles não habitem e destruam nossas vidas. Temos os venenos apropriados para essa praga, que podemos usar em doses diárias, sem custos e sem efeitos colaterais ou secundários, sendo eles: a caridade, a humildade e a constante vigilância dos nossos atos.