O Jornal Cruzeiro do Sul, na edição de nº 1009, de 18 de agosto de 1909, trouxe na página 02, noticia sobre a morte trágica ocorrida em 15 de agosto, um domingo, do “festejado literato” Euclides da Cunha, a matéria dizia: “…Essa notícia, como era de esperar, ecoou dolorosamente por todos os recantos do Brasil, porquanto, na nossa literatura, a morte de Euclides da Cunha veio abrir uma lacuna muito difícil, se não impossível, de preencher. ”
Euclides, vai em 1898 para São José do Rio Pardo, como engenheiro, vai coordenar os trabalhos na construção da ponte bem as margens do Rio Pardo, edificando uma cabana de zinco e sarrafos, sendo o seu escritório, bem naquele local nasceu “Os Sertões”, obra máxima da literatura brasileira, publicado em 2 de dezembro de 1902, que foi traduzido em dezesseis idiomas.
O prefeito de São José do Rio Pardo, José Martins de Andrade, em 1925, cumprindo resolução da Câmara Municipal local, proclamou, em ato público, o dia 15 de agosto dedicado à memória de Euclides.
O primeiro contato com Os Sertões que tive foi em 1981, quando o historiador José Aleixo Irmão, foi convidado a participar como conferencista da 69ª Semana Euclidiana em São José do Rio Pardo. Lá, ganhei um exemplar de Os Sertões – versão infanto-juvenil, das mãos do acadêmico correspondente da Academia Sorocabana de Letras, o euclidiano, Márcio José Lauria.
Daí o porquê do valor inestimável da Semana Euclidiana em São José do Rio Pardo, sempre voltada ao estudo da obra de Euclides, promovendo inúmeros eventos e debates sobre a temática nacional.
“Os Sertões”, constitui um dos melhores estudos de Sociologia regional focalizando a luta entre duas sociedades, a do grande pastoreiro e do citadino, a do caudilho e a do político.
Euclides tem por objetivo principal a etiopatogenia do tumor chamado Canudos, nas mais cadentes páginas do livro, apenas procura, mostrar os erros, em linguagem não panfletária, apontar o remédio salutar.
Possuidor de invejável cultura geral, conseguiu transformar a grande soma de termos técnicos, originados da engenharia, de linguagem fria e inexpressiva, num êxtase da maior sensibilidade.
Aleixo Irmão afirma que “Os Sertões”, “não é um livro improvisado. Ele é fruto de estudos anteriores, de notas apanhadas aqui e ali, e de lições de geologia colhidas de Orville Derby; de T. Sampaio a respeito da natureza física dos sertões, aspecto e relevo; de F. Escobar, a final, foi completado em São José do Rio Pardo”. Em carta ao pai, Euclides chama o livro “o seu grande neto”.
O livro concebido por Euclides é a obra de mais força e originalidade da literatura brasileira. A sua voz conseguiu acordar do letargo o gigante que dormia o sono plácido; por isso mesmo, não morreu, como diz o historiador Aleixo: “encantou-se na alma nacional”.
Todo o desenvolvimento e integração da pátria são inspiração euclidiana. Não há negar a força dessa voz, viva, profética, atuante, patriótica.
Mesmo depois de 115 anos de sua morte, Euclides continua tão atual e ressoa em todas as direções do país.